Invitation irréfutable (leia-se: convite irrecusável)

Quando alguém que você admira muito te faz um convite, primeiro você se espanta e depois você aceita sem pensar em nada no intervalo dessas duas sensações. Minha vinda para Paris foi assim. Recebi um convite e nem me preocupei em avaliar as condições, se o evento seria legal, quem estaria comigo ou qualquer outra coisa totalmente plausível quando você vai deixar sua casa e ficar pelo menos 22hs voando (ida e volta) num treco que tem asa e para em outro continente.

Aí conseguir ajeitar as coisas pra praticamente passar o final de semana em Paris, se alguém me contasse quando eu tinha 10 anos que um dia, nem tão longe assim eu ia passar um final de semana em Paris eu ia rir copiosamente da cara dessa pessoa e falar: “Ninguém passa o final de semana em Paris”. Pois é, cá estamos no vôo de volta desse final de semana.

Mas sabe o que também me faria rir copiosamente se alguém me falasse?! Que eu ia estar em um evento em Paris de estudantes brasileiros, dezenas deles, que estudam no Velho Continente e querem mudar o país dando educação de qualidade sem deixar ninguém para trás e por isso montaram uma organização chamada BRASA. Mais do que isso, que eu ia falar para todos eles e todas elas sobre educação e o que vem mudando no mundo, mas o que especialmente estamos fazendo em uma empresa que foi concebida por mim e por um sócio com menos de 30 anos e que nessa mesa ia estar uma pessoa que você admira muito por fazer política pública para educação que até já tinha sido secretária e ministra. E que por estar nesse evento ia conhecer muita gente bacana inclusive o Embaixador, gente da UNESCO, do Banco Mundial, da Câmara de Comércio e muitos estudantes incríveis com histórias de vida ainda mais incríveis. E não foi isso que aconteceu esse sábado? Chocante né!?

Acho que eu nem preciso falar o quanto o evento me fez refletir sobre um milhão de coisas, mas como ninguém vai ler se eu listar todas as 1 milhão de coisas separei as 3 que ficaram mais latentes.

Como é bom ser a pior da sala de vez enquanto.

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Já reparou que a gente constantemente se sente o melhor da turma, do evento, da aula, da competição e acha isso incrível e por isso acaba sempre procurando lugares onde a gente tenha essa sensação. Com certa frequência a gente foge de lugares que a gente sabe que não vai entender direito, ou que a gente não conhece as pessoas, mas elas parecem vividas e com mais experiência? Poucas vezes nos damos essa oportunidade. Aí depois que você acaba virando referência, com frequência te dão o palco e o microfone. Isso não é ruim ou está errado, pelo contrário, é incrível. Só que você para de frequentar lugares opostos, onde você está lá e tem plena convicção que não é referência coisa nenhuma e que tem tanta gente que já andou estradas tão mais longas que a sua, ou até mais curtas, mas mais relevantes. Você para de se dar a oportunidade de só escutar, de criar as suas referências. E é por isso que ser o pior da sala é a oportunidade de ser o que mais vai aprender coisa nova. Pensa nisso e não foge dessa situação.

Esse final de semana significou isso para mim! Poder ouvir pessoas incríveis sobre temas que nem sempre tenho a oportunidade. Porque que eu só posso ouvir e me interessar sobre Educação e Tecnologia? E a Amazônia, onde anda? E o cenário político, como está?

Paris mudou.

Vim para Paris 3 anos atrás para um evento de tecnologia e inovação. Tinha acabado de voltar dos Estados Unidos e estava inserida no meio no Brasil. Cheguei aqui e vi um evento muuuito aquém do que eu esperava. Na época minha leitura foi: Paris está comentando o mesmo erro que nós e querem “copy-and-get” os Estados Unidos. Parece que por terem sido berço de muitas ciência e inovação no passado, eles não queria pisar nesse passado e embarcar no século XXI. Tudo ainda era bem analógica e qualquer coisa que abria automático já era inovação. Startup também não era um assunto atrelado a inovação, não existiam muitos encontros ou espaços para esse tipo de agente dentro do país.

Voltei esse final de semana e fiquei em choque. Tudo mudou. Temos o maior espaço dedicado a aceleração de startups do mundo, o Station F. Uma enormidade. Temos co-working público, temos WeWork na Lafayette, temos incentivos fiscais, temos pólos de competência espalhados pela França toda, onde governo, universidade e iniciativa privada se encontram para gerar inovação, vi uma juventude que tem empreendedorismo e inovação na grade obrigatória das universidades, vi crianças que tem programação desde o inicio da escola pública, vi ensino ativo e alunos produzindo trabalhos de conclusão de curso dignos de exposição. E o mais incrível, não é que o governo banca tudo isso?!

Nem sei bem explicar o que rolou, mas a galera mais esperta que eu tive a sorte de encontrar me deu uma explicação que fez sentido. Em tempos de Brexit, governos fora da sanidade mental, o poder tinha que ir para algum lugar, já que não existe vácuo de poder, com inteligência um governo jovem está investindo para que cada vez mais venha para, França, especificamente Paris, o poder de inovação e tecnologia da Europa. Eu não sei vocês, mas eu comecei na hora meu Duolingo de Francês.

Colaboração e propósito podem com tudo.

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Falar de colaboração e propósito tem virado piegas e ninguém mais aguenta mais ver meia dúzia de pessoas que primeiro discute os seus cargos e depois vai criar a empresa. Que começa movimentos incríveis nas redes sociais e depois acha que é suficiente. O que eu vi aqui foi uma organização de jovens que colabora de verdade tem um propósito muito claro. Como ouvi de uns homens mais inteligentes que conheci e que pra variar foi nesse final de semana: O exílio é o melhor remédio para o patriotismo, onde a inversa também é verdadeira. Você só consegue ver o quanto seu pais é importante e as suas qualidades e dificuldades , quando você não pode estar nele. O BRASA é algo que todos os estudantes que por algum motivo estão fora do país deveriam conhecer, procurar, ajudar e conviver. Google it now!

Vou só dar um exemplo, eles todos se esforçam para conseguir estar em um mesmo lugar para o Summit que foi o evento que eu participei, e você vê eles todos se organizando indo no evento não só para escutar, mas para produzir, mudar, gerar. Eles podiam só estar usufruindo do status de ter uma dupla titulação de duas faculdade muito incríveis, falar 4 línguas e terem a tal da vivência internacional, mas não….eles ao invés de viajar por 23 euros para a Escócio porque o vôo estava barato eles passaram o final de semana discutindo o cenário brasileiro em 3 âmbitos: meio ambiente, educação e acesso a capital.

Por isso digo e repito, colaboração e propósito podem resolver tudo quando apontados com intenção para um direção.

Diversidade em STEM é um problema do mundo.

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A discussão de gênero era latente, todos se preocuparam em usar mais do que o artigo feminino nas construções dos discursos, eles estava realmente discutindo o papel da mulher em todos os âmbitos e sabe porque? Aqui na França o problema também de baixa diversidade também existe, são poucas nas STEM, mas sabe qual foi a diferença que todas elas me apontaram? Todos já mudaram a cultura e entendem que isso é um problema, tomam atitudes, pois percebem a importância. Os professores não fazem piadas machistas por medo de sofrer retaliação do grupo feminista da instituição, mas porque eles entenderam que é idiota. Aqui a mudança quantitativa ainda não veio, mas a qualitativa está aí para todo mundo ver.

Mil beijos!

2 comentários sobre “Invitation irréfutable (leia-se: convite irrecusável)

  1. Arielle Sagrillo disse:

    Camila, estive no evento, tive a honra de ouvir tua fala [e de comprar um crepe com você! hahaha] e achei que devia deixar registrado [também aqui] todo o meu respeito e admiraçāo pelo teu trabalho! 🙂 Muito obrigada por levantar essa bandeira tāo importante [e que me é tāo cara] e por inspirar meninxs ao redor desse mundāo! 🙂

    Beijo grande, Arielle.

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