A meu pai, em 12/07/2017:
“Tenho 15 [quase 16] anos, meu pai tem 43. 27 anos de diferença e, ainda assim, temos a maior sintonia do universo. Quando minha crise de ansiedade bate de madrugada, ele quem deita do meu lado e me deixa aproveitar o momento da maneira certa, me sinto mais protegida com quem é forte por perto. Dia desses, encontrei painho triste, triste de verdade: ”o que é que tá acontecendo?”, perguntei e ele respondeu que tinha medo. Medo do quê, ora bolas? Como o homem que me parece mais forte no mundo tem medo? Medo da vida, painho respondeu. Soluçou, respirou e repetiu pra mim que tem medo da vida. Não é o medo inerente ao viver, esse tal medo da vida!? ”Lá vem o trem, o trem da vida”, apesar de ser um bom trem, que leva por caminhos lindos [e inimagináveis, diga-se de passagem], o trem atropela quem não consegue aprender a verdade por trás dessa viagem: é normal ter medo das curvas, da velocidade e dos passageiros com quem a gente encontra. Respondi pra painho que todo mundo sente medo da vida mas que não pode parar de viver por causa disso [quem me dera a história do trem tivesse vindo à cabeça na hora], ele se acalmou, embora não tenha abandonado o medo. Se o meu pai tem medo, o que eu devo sentir? Me sinto aterrorizada e apesar disso, mais forte. Continuo vivendo, continuo com medo, mas estou mais crescida e mais forte, porque não há motivo pra me fazer parar de enxergar a beleza no caminho disso tudo. Meu pai continua o homem mais forte que conheço, e agora tem um Q de ser humano mais humano que qualquer outro, pra mim. Agora ele é o Clark Kent, que se despiu do Super-Homem pra me amar [e a meu irmão e mãe] por completo. Te amo, coelhinho. Obrigada por me fazer aprender tanto.”
À minha mãe, em 20/07/2018:
“Pra quem me deu sobrenome, amor e carinho, me zelou, apoiou e reclamou quando necessário: te amo! Eu tentei interpretar Drummond umas 10x ou mais e descobri que ter apenas duas mãos e o sentimento do mundo, pra mim, considerando a licença poética de interpretação pessoal, significa ser mulher, Marques e latino-americana. graças a você, os três são possíveis. A genética pode vir, fria, me afirmar que sou mulher graças ao X que herdei de painho, mas eu sou mulher, sem medo de ser, por sua causa! Obrigada por ser meu maior exemplo de compreensão, cuidado e carinho. obrigada por se mostrar aberta às minhas possibilidades/visões e encontrar em mim uma amiga. Eu precisei do feminismo pra enxergar, claramente, que nas mulheres eu encontrei minha força e minha voz, e hoje vejo que meus primeiros passos firmes como Melissa, mulher, eu devo a você. Obrigada por compactuar com minhas opiniões e se mostrar aberta aos meus debates que, às vezes, se mostram tendenciosos (risos). Obrigada por me tornar uma Marques, também! Obrigada por me fazer sentir Sangue Latino com tanta intensidade e amor. Eu te amo incondicionalmente, Maim! Você é o meu orgulho e lar!”
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Meu nome é Melissa Marques e sou paraibana, do sertão do Estado [da Paraíba]. Quando criança, nunca e
senti pertencente à minha terra. Com o passar dos anos, passei a apreciar, de verdade, a companhia das pessoas daqui, quaisquer que fossem, especialmente das mulheres sertanejas. Me apaixonei simultaneamente por três coisas, nessa época: o sertão no qual vivia (hoje moro no agreste da Paraíba graças à universidade); a América Latina; o feminismo. Paixões que carrego comigo ainda nos dias de hoje.
Curso Ciência da Computação na UFCG, em Campina Grande, e, por aqui, as iniciativas femininas na nossa área têm, cada dia mais, crescido e se tornado protagonistas na nossa comunidade.