Enquanto minha mãe sonhava com direito ou pedagogia, eu sonhava que ela não sonhasse nada. Em uma cabeça ainda meio adolescente, essa seria a forma de poupar uma série de explicações que nunca seriam compreendidas. Até porque se meus braços fossem tão fortes como minha personalidade, eu não teria sofrido para carregar CPU’s.
Teimosa, decidida e até um pouco do contra, nada me fez ou faria mudar de ideia a não ser uma outra ideia minha. E sabe que acho que foi umas das melhores escolhas que ja fiz?!
Eu nunca tive dúvidas em relação a escolha por tecnologia, mas também não tinha nada de experiência no assunto. As coisas não eram fáceis e eu não tinha nem computador em casa. Meus pais, com pouca instrução, lutavam para me manter e mais ainda para entender o que esse “sonho” poderia me trazer no futuro. Era difícil explicar, difícil convencer, mas tive a sorte deles não medirem esforços para me fazer feliz; assim, conseguimos iniciar o trajeto.
Mas… para que simplificar se eu poderia dificultar? Na base dessa trajetória, eu ainda tive a “audácia” de optar por infraestrutura. Dá para imaginar? Pois é! Eu me encantei desde a primeira vez que vi um servidor e queria dominar todo aquele equipamento que me deslumbrava. Foi paixão, paixão mesmo, dessas malucas e eu não iria me controlar até desvendar todo o mistério que eu pensava ter ali. Por essas e outras, ser a única mulher da equipe foi por muito tempo a minha realidade. Nem sempre foi fácil, mas as dificuldades se tornaram superação e renderam boas histórias pra contar:
“Isso é coisa de homem!”
Não, não é. Da pra ser feminina sendo de TI, da pra ser vaidosa sendo de ti, da pra ser delicada sendo de TI. Quer dizer, delicada nem sempre, mas no geral dá.
Uma foto que me marcou o início da carreira foi que, ainda como Analista Jr., realizava atividades de suporte. Meu tempo em 70% do tempo era ocupado com manutenção e formatação de pc’s; Isso incluía manutenção física.
Trabalhava, estudava e sempre estava rodeada de compromissos que não abria mão. Sempre que ía chegando o final de semana, os compromissos pessoais já começavam a pintar e eu a pensar na preparação do visual. Então eu me programava para entregar essa atividade de manutenção antes do almoço da sexta feira, porque este horário era usado na manicure; sagrado!
Mas e quando não dava tempo de terminar? Ou quando surgia uma emergência e eu tinha acabado de fazer a unha e estava com o esmalte molhado? Dever é dever! Mas era aí que eu virava piada ou contava com uma alma boa para me ajudar, pois eu quase que demorava mais pra tirar os parafusos segurando a chave com a ponta dos dedos do que para fazer toda a manutenção.
Ainda bem que nem tudo é perdido e para tudo há salvação (E olha que nem estou falando de backup, apesar dele ser extremamente importnate, sempre! Haha). Pasmem, em meio a este mundo dos meninos, eu tinha um gerente fofo que além de ser um mestre, aguentava e tinha paciência com todas as minhas meninices.
“O técnico não vem?”
Em uma fase da carreira, comecei fazer atendimentos in loco e ia atender clientes sob demanda emergencial com especialidade em servidores Microsoft.
Nesta fase, perdi as contas de quantas vezes carreguei uma mochila pesada e fui recebida com o descaso da frase: “O técnico não vem?”.
Lembra do lance da personalidade? Então, aqui ela foi uma das armas mais usadas para o sucesso.
Neste momento, eu usava toda minha força no sorriso e respondia: ” O técnico sou eu. Vim resolver seu problema. :)”
Alguns sorriam sem jeito e logo me acomodavam, mas outros ainda conseguiam superar a indelicadeza questionando minha capacidade.
Esse questionamento era meu maior incentivo para fazer um trabalho excelente. Ao final, eu sempre saía com a mochila ainda mais pesada. Além das ferramentas de trabalho, eu a preenchia de orgulho.
“Você quem está coordenando esta operação? Uma mulher?!”
Sim. Bastaria que fosse um ser humano, capacitado e com condições normais de raciocínio. Não creio que o gênero seja um peso ou um impeditivo! (Calma! Não foi assim que respondi, mas foi o que pensei quando um segurança curioso me fez a pergunta acima em meio a uma operação de mudança física equipamentos em um datacenter.)
Dialogo:
– Sim, sou eu.
– Nossa! Nunca vi mulheres nesta área.
– Mas tem muitas.
– Que legal! Fiquei surpreso, pois sempre te vi por aqui tão arrumada que nunca imaginei que pudesse realizar este trabalho. Achei que fosse algo masculino. É de se admirar. Parabéns!
– Aiiii… Obrigada.
Fiquei meio sem jeito, mas naquele momento, não tinha tempo para isso e nem muito o que dizer né. Só pude concluir: Estereótipos!
Estereótipos, estes, que existem em qualquer lugar, porque é um vício da sociedade, o vício de julgar, de concluir precipitadamente o desconhecido. O que não se pode é deixar contaminar.
Entre estas, existem outras, diversas, algumas engraçadas, outras revoltantes, tem as rotineiras, mas também tem aquelas de dar orgulho como foi relatado acima.
Nem tudo é pesadelo. Ser a única menina também tem suas vantagens; uma delas, e a que mais sinto falta, é receber mimo e proteção dos colegas. Tive essa sorte. 🙂
Hoje minha carreira não está mais focada em infra. Aceitei oportunidades e abracei novos desafios, pois crescer é necessário e gratificante, mas o coração ainda está lá.
Tenho ainda um caminho longo a percorrer, mas a maior e mais grata experiência que posso compartilhar é que estereótipo é algo abstrato e que quando se sabe o que quer, tudo é possível e sendo possível, vale a pena!
Saiba o que realmente quer! Trace um plano e vá atrás! Faça valer!
Sim! Sou uma mulher de TI! Amo o que faço e me orgulho de ser!
“Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida.”
Sandra Varollo.
Coordenadora de Projetos na empresa Totvs S.A. Formada em Processamento de Dados na Universidade Mackenzie.
PS.: Ameeeei!!!!!!! Adoro ver gente corajosa…independente de gênero…que tem uma determinação tão forte que nem o papa a impediria de chegar onde ela quer!!!!!!!!!! Parabéns Sandra pale carreira e pela dedicação! Com certeza uma grande mulher na computação : )
Oi Camila, me chamo Bruna, tenho 21 anos e muito interesse e na área de TI. O que mais me fascina é a ideia de criar, fazer algo novo ou concertar algo que não funciona mais, mas tenho dificuldade com lógica e é por esse motivo que estou um pouco sem estímulo. O que devo fazer se não sou boa de lógica ?