Passei meu sábado em Belém do Pará, mais especificamente na Ilha de Combú na Floresta Amazônica. E eu tive um dos dias mais incríveis da minha vida. Mas foi também o dia em que eu tive muito muito medo. Medo de estar errada. Muito errada. Vou contar a história inteira. E vou voltar lá pra minha primeira infância.
Desde pequena eu sou bem curiosa e acho que não sabia, mas isso era sede de mundo. Sede de saber o que tem em cada canto desse planeta. Entender como tudo funciona e isso me fez estar onde eu estou. Arrumei uma aliada muito boa lá pela metade da minha jornada, que sem ela não seria possível: a tecnologia. Achei respostas.
Decidi que faria isso da vida. Mostrar essa aliada pra todo mundo. Ser a representante da tecnologia que eu conhecia, que me libertou e não que ameaçava.
Ela não precisava ser só minha e no último sábado, lá pelas seis da manhã quando abri os olhos eu estava bastante confiante nisso apesar do sono, estava vindo de uma avalanche de novas informações, passado por cinco capitais em seis dias….enfim estava tudo bem bem, até que…
Entrei em um barco, e partimos pra uma ilha, a Ilha de Combu… Tinham várias pessoas no barco , voluntários, minha equipe, pessoal da Intel, time do Barco Hacker, enfim…só gente do bem! Tomo mundo tagarelando a viagem toda.
As palafitas, a navegação, a falta de conexão estável, a falta de tomadas era esperado até certo ponto, mas quando vimos 17 crianças de 3 a 12 anos que conheciam a energia elétrica apenas à 4 anos todos nos calamos.
Não tinha a menor ideia do que fazer! Tive um minuto de branco! Todas as minhas crenças passaram em alguns segundos na minha frente! Será que é tecnologia a resposta pra elas? Será que um dia elas iam conseguir aproveitar aquele conhecimento? Será que elas vão entender? Será que é isso mesmo? Será que é pra todo mundo mesmo? Será? Será?
Questionei tudo e por pouco não desisti…quase que fiquei só ali conversando e disfarçando…coloquei todo mundo em roda pra ganhar tempo e pensar no que eu faria. Olhei na carinha de cada um e todos estavam vidrados em mim, no meu conhecimento, no que eu estava falando…tudo isso enquanto duas menininhas se empurravam pra ver quem sentava do meu lado. Crianças! Como todas as outras…ABERTAS! CURIOSAS! SEM MEDO!
Aquela cena que era trivial, serviu de faísca e começou a transformação! Minha cabeça estava sempre um pensamento na frente tentando traduzir pra eles o que era um microcontrolador, uma protoboard, um resistor…de um jeito que a lição final fosse: EU SOU CAPAZ! FUI EU QUE FIZ ISSO! ISSO É TECNOLOGIA E EU NÃO PRECISO TER MEDO.
Sentamos no chão, perdemos o medo da placa, montamos circuito, programamos, todos, juntos, iguais!
Conforme iam conseguindo acender as luzinhas (LEDs) e escolher o intervalo que quisessem todos vibravam, riam, gritavam, comemoravam…fiquei maravilhada com a rapidez com que eles se empoderaram com aquele conhecimento!
Eu já estava querendo chorar e gritar pro mundo que estava dando certo, que tecnologia empoderava qualquer um, independento do lugar do mundo que estivéssemos! Mas ainda tinha a prova final…eles tinham 15 minutos pra pensar e desenhar soluções usando aquilo que eles tinham visto para os problemas da comunidade, para quê eles usariam aquele aprendizado? Será que eles iam conseguir aplicar? Eu precisava me segurar mais um pouco! Me controlar.
Eles ficaram maravilhados com as canetinhas e réguas, muitos não tinham uma. Deixamos várias de presente.
Começaram as apresentações, eles estavam com vergonha, não sabiam se estavam certos, se eram bons…ai se eles soubessem! Não se envergonhariam nem por um segundo…muito pelo contrário!
As ideias eram incríveis…resolviam problemas reais, problemas deles com uma simplicidade admirável.
Vou contar a que mais me chamou atenção: um braço extensível com uma plaquinha que coleta informações como cor do açaí e informa se ele está maduro ou não, evitando que alguém tenha que subir no pé, num primeiro momento parece meio superficial, até que eles foram me mostrar como é o processo…uma pessoa com uma folha amarrando os pés tem que subir uns 15 metros, correndo o risco de cair ou a árvore quebrar só pra ver se já está na hora de colher….pra alguém conseguir fazer isso tem que “calejar” o pé e a mão na raça…um problema que não está sendo resolvido!
Isso é problema de verdade! Isso é solução de impacto!
Quando os pitches acabaram e eles foram comer o lanche, coloquei meu óculos escuros e chorei! Chorei! Chorei porque eles estão apartados, eles estão isolados, excluídos, eles não estão tendo os problemas resolvidos…
Chorei porque não tem preço ver a expansão dos sonhos de crianças. Os horizontes mudam quando um LED acende! E basta um! Ensinar tecnologia para eles é muito mais que passar conhecimento técnico, é mostrar que eles podem!
Depois dessa eu nunca mais vou sentir medo! E se sentir…vou com medo mesmo!
Para quem quiser saber mais sobre tudo que a gente vem fazendo dá uma olhada no Mastertech, na Ponte21 e na Maratona Maker ❤
Beijos!
PS.: Comentem aí como tecnologia mudou a vida de vocês!